Por:
Sonia das Graças Oliveira Silva
Às
vezes fico pensando em como estão as famílias hoje. Quando uma professora marca
uma reunião e pede que todos os pais participem, alguns alunos dizem: “Meu pai
não pode vir, ele não mora conosco”. Outro diz: “Minha mãe pode vir com o
namorado dela? Ele está morando lá em casa.”
Algumas
famílias modernas são assim, a mãe e o pai são amigos, combinam como cuidar das
crianças, quem vai levar na escola, quem vai buscar, quem fica com as crianças
na hora do outro sair para passear, ou ainda, onde vão ficar as crianças, pois
os dois vão sair para namorar. Enfim, as famílias mudaram muito.
Já
presenciei um fato diferente: Os pais foram convidados para uma reunião
importante da escola, para tratar de assuntos relativos à formatura da filha
adolescente. A garota tratou de falar pessoalmente com cada um dos pais, pois
eram separados. No dia da reunião, devido a um imprevisto no trabalho, a mãe
acabou se atrasando e, como sabia que o ex-marido ia participar também,
pediu-lhe uma carona para chegar mais rápido à escola.
Chegaram
juntos para a felicidade da menina. Assentaram-se sem fazer muito alarde, pois
o salão já estava repleto e a reunião já estava começando. Dali a pouco, o
namorado da mãe, querendo agradá-la com a surpresa de ir à reunião, apressa-se
em chegar na hora e encontra-se na porta com a namorada do pai que teve a mesma
ideia, visto que ambos precisavam agradar a menina demonstrando interesse na
festa de formatura.
Foi
um desastre! O casal recém-chegado foi obrigado a sentar junto, pois não havia
mais lugares disponíveis e os pais da menina estavam bem mais à frente.
Criou-se ali uma situação estranha e embaraçosa que deixou a menina encabulada.
Em
muitos casos, namoradas dos pais, ou namorados das mães, confundem a cabeça das
crianças, que passam a não entender esse sentimento que nutrem por essa pessoa
que não é pai, nem mãe, mas que está em contato constante com elas e amam seus
pais ou mães.
Aquela
preocupação anterior dos pais em dizer para a criança que vão se separar, o
medo que têm da criança sentir muito, de ficar até doente com a separação, tudo
parece não ter mais importância. Cada um tem o seu namorado e tudo parece ser
natural e aceitável. Até aquele preconceito que pensavam que iriam sofrer da
sociedade não é mais perceptível. Muitos casais, ao se separarem e começarem
outro relacionamento esquecem-se das crianças e adolescentes, que estão sempre
atentos a tudo, mesmo não deixando transparecer.
Apesar
de, muitas vezes, não demonstrar de fato, as crianças sentem muito a separação
dos pais, especialmente, se for criança pequena que precisa de ambos para
formar a sua identidade.
Antes
de um casal pensar na separação, deveria tentar se acertar. Analisar as
diferenças, modificar comportamentos, reconstruir e rever seus papéis, perceber
que mesmo que haja alguma incompatibilidade, ela não é total e sempre vai haver
a chance de recuperar a família.
Muitos
casos de separação não levam simplesmente a novos relacionamentos e namoros e
tudo bem. Muitos relacionamentos conturbados dos pais são extremamente
prejudiciais aos filhos e vão impedi-los de viver adequadamente cada etapa de
seu crescimento. Em muitos casos, os pais tentam envolver os filhos, procurando
aliados, como se fossem disputar uma guerra.
O
ideal é não haver a separação, mas se isso for inevitável os filhos devem ficar
livres para procurar os pais, para conviver com um e com o outro da melhor
maneira possível. É importante que os pais passem para os filhos que a
separação é entre eles e que não estão se separando das crianças. Eles precisam
resolver isso entre eles, não sendo necessário envolver os filhos.
O
diálogo entre os pais, entre os pares do novo relacionamento e com os filhos é
vital para a permanência do afeto entre pais e filhos. Mesmo estando separados,
os pais devem continuar sua tarefa de amor para com os filhos. Essas crianças
ainda precisam muito de cuidados, de carinho e atenção.
O
novo amor que surgiu na vida do pai ou da mãe, não deverá suprimir o amor que o
casal sente por seus filhos em
comum. Mesmo porque, deve-se levar em conta que outros filhos
virão desses novos relacionamentos e haja paciência, compreensão, carinho e
amor para tanto!
Empresária, Graduada em Ciências/matemática, Especialista
em Educação Infantil
pela FACED, Faculdade de Educação da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora/MG);
Especialista em Mídia e Deficiência, pela FACOM, Faculdade de Comunicação da
UFJF e Pós-Graduada em Arte, Cultura e Educação, pelo IAD, Instituto de Artes
da UFJF. Possui várias publicações em sites e revistas.