terça-feira, 28 de junho de 2011

BREVE ANÁLISE DE ALGUMAS OBRAS de CANDIDO PORTINARI

BREVE ANÁLISE DE ALGUMAS OBRAS de CANDIDO PORTINARI

Por: Sonia das Graças Oliveira Silva
                                                                  Quanta coisa eu contaria se pudesse e         soubesse ao menos a língua como a cor. (PROJETO PORTINARI, 2009, p. 39). 


            São vários os artistas que registram em suas obras a cultura de seu povo e de seu país. Candido Portinari foi um destes artistas, produziu uma extensa obra que leva quem a conhece a viajar no tempo, através da história. Neste texto analisa-se algumas obras, pois a grandiosidade do trabalho de Portinari não seria possível demonstrar em tão pouco espaço.
            A grande preocupação de Portinari sempre foi expressar o homem por meio de diferentes linguagens e formas. Ele retratou o Brasil em suas pinturas. “Misturando as técnicas que havia aprendido à sua personalidade, experimentou novos caminhos para os traços, as cores e as formas que criava.” (ROSA, 1999, 29).
            Em 1934, Portinari pinta Despejados, sua primeira obra com temática social. Em 8 de dezembro do mesmo ano, é inaugurada sua primeira exposição individual na cidade de São Paulo. Tudo o que Portinari pinta não pode ser rotulado, apresenta contradições e soluções que superam o artista comum. Ele não é simplesmente enquadrado em um contexto artístico. A obra de Portinari deve “ser entendida com toda a sua força dramática expressa em cada pincelada.” (ROSA, 1999, p. 29).
            Mestiço, um óleo sobre tela de 1934, segundo a Pinacoteca Caras (1998), causou um impacto dramático, com traços carregados de contrastes entre o preto e o branco e o expressionismo das cores. O Mestiço é um homem retratado com mãos fortes e calejadas pelo trabalho. Essa obra permaneceu na Pinecoteca do Estado, a primeira instituição pública a abrigar uma obra de Candido Portinari no acervo.
            Na obra Lavrador de café, de 1934 Portinari demonstra sua maior preocupação, o homem. Para ele,

                                      O conteúdo espiritual de um quadro registra a potência de sensibilidade do artista. O lado técnico registra o conhecimento e o  desenvolvimento da sensibilidade do artista. A técnica é um meio com o qual o artista transmite a sua sensibilidade. (ROSA, 1999, p. 15).

            Na tela Lavrador de café, uma das mais famosas, Portinari retratou a força, o movimento e o desafio do trabalhador rural. As cores usadas nas duas obras tem predominância do marron, do vermelho, cores da terra, talvez demonstrando a união do homem à terra vermelha, com os pés fincados e firmes como se fosse buscar e conquistar a sua própria terra.
             Com o quadro Café (1935), Portinari foi premiado nos Estados Unidos. Rosa (1999) acrescenta que a obra revela a preocupação do pintor com os trabalhadores rurais, com sua vida, suas dificuldades. A rotina de trabalho destes homens, suas vestimentas, seu modo de trabalhar, seus pés e mãos muito grandes mostram a dureza de suas vidas. Portinari escreve Retalhos de Minha Vida de Infância e assim descreve os pés dos trabalhadores:

                                      Impressionavam-me os pés dos trabalhadores das fazendas de café. Pés disformes. Pés que podem contar uma história. Confundiam-se  com as pedras e os espinhos. Pés semelhantes aos mapas: com montes e vales, vincos como rios. Quantas vezes, nas festas e bailes, no terreiro, que era oitenta centímetros mais alto que o chão, os pés ficavam expostos e era divertimento de muitos apagar a brasa do cigarro nas brechas dos calcanhares sem que a pessoa sentisse. Pés sofridos com muitos e muitos quilômetros de marcha. Pés que   só os santos têm. Sobre a terra, difícil era distingui-los. Os pés e a terra tinham a mesma moldagem variada. Raros tinham dez dedos, pelo menos dez unhas. Pés que inspiravam piedade e respeito. Agarrados ao solo eram como os alicerces, muitas vezes suportavam apenas um corpo franzino e doente. Pés cheios de nós que expressavam alguma coisa de força, terríveis e pacientes. (PROJETO PORTINARI, 2009, p. 16).

            No final da década de 1940, Portinari inicia as pinturas sobre temas históricos e por meio de murais expressa seu olhar sobre os fatos da história do Brasil. Pinta um painel sobre a Primeira missa no Brasil, apresentando características mais geométricas ao utilizar retas paralelas e diagonais provocando efeitos especiais.
            Sempre retratando a parte social, Portinari pinta em 1944, a Série Retirantes e Enterro na rede, atingindo o auge da emoção. Nessas telas retrata imagens de sua infância, as famílias desabrigadas e pobres que passavam por sua cidade. (ROSA, 1999).


REFERÊNCIAS


PROJETO Portinari. Viagem ao mundo de Candinho. Disponível em: <http://www.portinari.org.br/candinho/candinho/abertura.htm>. Acesso em: 17/Ago/2009.


ROSA, Nereide Schilaro Santa. Candido Portinari. Coleção Mestres das Artes no Brasil. São Paulo: Moderna, 1999.