quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A TELEVISÃO E A CRIANÇA

 Sonia das Graças Oliveira Silva[1]

A TELEVISÃO E A CRIANÇA
A grande influência dos meios eletrônicos na vida das crianças, em especial a TV.
RESUMO

O tema “Televisão e Criança” tem sido objeto de controvérsias e carência de solução, e através de reflexão e pesquisa, tento mostrar o quanto a criança, pequeno telespectador, está inserida no ambiente televisivo. Analisando se existe saída para pais e educadores diante de tanta informação boa e má, conclui-se que não há mal intrínseco à TV, mas sim no uso que se faz dela. O desafio é fazer a criança descobrir outros prazeres, além da televisão.
Palavras- chave: Televisão, Criança, Escola, Educação, Cultura, Sociedade.

INTRODUÇÃO
            A televisão, a criança, a escola e o lar têm sido tema muito debatido e objeto de grande polêmica. São necessárias várias reflexões e muita pesquisa. É nesse contexto que se insere a questão de como a criança pensa a TV. Como ela encara os eventos do dia-a-dia e os heróis e vilões que desfilam diariamente pela tela mágica da televisão.
            Também se faz necessário pensar em como a escola tem reagido às linguagens e aos conteúdos veiculados pela TV. Será que a escola tem explorado a TV como se fosse uma escola paralela, que compete tão deslealmente, mas de modo tão fascinante? Os professores reconhecem a TV, como um meio onipresente que influencia diversos âmbitos da vida social das pessoas. Seria impossível a escola, ou os pais das crianças ignorarem os robôs que falam, as naves espaciais que a todos fascinam, a capacidade de voar e de se transformar, de transformas coisas, a magia, o poder e o terror trazido pelos monstros e vampiros; as lutas do bem contra o mal nos desenhos animados, a violência mostrada nos noticiários. É preciso estudar a TV e estudar profundamente.
            Este estudo parte da idéia de que a televisão interfere no trabalho desenvolvido na escola. É preciso conhecer esta interferência, quando e como ela ocorre, se é no ambiente escolar, no plano emocional, no âmbito dos valores. Trata-se de um tema bastante complexo, considerando-se a importância e o significado, as variáveis que comporta, os conhecimentos requeridos e as dificuldades metodológicas envolvidas. Acredita-se que este assunto ainda não foi suficientemente explorado, torna-se então importante aprofundá-lo na medida do possível. A metodologia utilizada neste trabalho é a da pesquisa bibliográfica, baseada em leituras previamente selecionadas procurando dar ao eventual leitor a compreensão da interferência da TV na vida social e na escolar, mais especificamente.
            Dessa forma espera-se que este trabalho venha contribuir para uma melhor compreensão da Comunicação, da Educação e das suas inter-relações, tais como, da relação TV/Criança, TV/Educação, TV/Cultura/Sociedade.

A TELEVISÃO - O veículo de comunicação

            Sabe-se que, hoje as notícias do mundo não chegam mais aos ouvidos das pessoas pelo que diz o padre na hora da homilia, pelo que conta o professor na sala de aula, nem nos comentários na hora do almoço entre familiares, nem mesmo nas conversas entre vizinhos, recursos usados antigamente. Hoje tudo é divulgado pela televisão. Sabe-se do que se passa no mundo todo em segundos, pois a informação está ao alcance dos nossos olhos e ouvidos. Até a religião se apoiou na TV. Padres católicos e pastores evangélicos evangelizam pela TV. Também política se faz pela televisão. As crianças, desde cedo, antes de entrarem em alguma escolinha, já passam várias horas diante da tela da TV. Os olhos e ouvidos já se habituaram tanto a ver e ouvir a televisão que se alguém passa diante de uma TV que está desligada, parece estranho.
            As mensagens audiovisuais exigem pouco esforço e envolvimento do receptor. Suas narrativas usam uma linguagem concreta, plástica, de cenas curtas, com ritmo acelerado, multiplicando os pontos de vista, os cenários, as personagens e os sons, mexendo constantemente com a imaginação e delegando à afetividade o papel de mediação entre o sujeito e o mundo. São essas características que marcam substancialmente a diferença do audiovisual com a linguagem escrita, que desenvolve mais o rigor, a organização e a análise lógica.
No mundo moderno, a criança passa muito mais tempo com os seus heróis da TV do que com os pais ou professores. Muitas crianças suprem a falta que sentem dos pais com a televisão, sempre presente, colorida e de fácil acesso.             Quanto menor e mais frágil for a criança, mais estará susceptível e maior influência sofrerá se encontrar um herói violento ou mau caráter, no qual se espelhará. Da mesma maneira que a família e a escola, a TV também tem um papel muito importante no desenvolvimento da criança.
            A criança desde cedo tem a tendência à imitação, portanto imitam também o comportamento que vêem na televisão. Apesar de imitarem as ações positivas observadas na mídia, infelizmente também imitam os comportamentos agressivos e violentos. Estas cenas agressivas são vistas nos filmes e desenhos animados e as crianças não as distinguem da violência real. Tem-se como exemplo os Power Rangers e as Tartarugas Ninja. Alguns heróis violentos são mais prejudiciais às crianças do que alguns vilões, porque são modelos que elas gostam de copiar. Os filmes do Exterminador são um bom exemplo disso, neles a violência é premiada e considerada eficaz. A justificativa da violência, como se fosse certo agir assim, e a constante exposição das crianças a ela trazem a dessensibilização. Há uma atenuação das reações à violência e uma falta de solidariedade para com os atacados. Isto também pode ocorrer no ambiente familiar. Homens que assistem constantemente a filmes violentos podem considerar normal a violência doméstica.

A CRIANÇA E SEU UNIVERSO INFANTIL

            A vida da criança na atualidade está muito distante daquela em que se podia aprender todo o necessário sem sair de casa. Atualmente ela necessita de toda a informação a que tenha acesso, tanto de maneira informal quanto formal. Não se admite que uma criança esteja fora do ambiente escolar. Porém, apesar do progresso, todas as crianças, desde as que usufruem todas as facilidades até aquelas que vivem em condições sub-humanas, ainda têm várias formas de aproveitar a infância.
            Os pais e educadores, não devem se esquecer que, apesar das transformações pelas quais passa a família, esta continua sendo a primeira fonte de influência comportamental, emocional e ética na criança. A família precisa aproveitar a grande influência da TV na criança de maneira correta, levando-a a assistir programas bons, ou evitando os horários ruins, ou ainda levando a criança para longe da TV e para perto de outra atividade.
            Este pequeno telespectador está inserido neste ambiente televisivo e o que ele compartilha com os colegas é determinante para sua visão de mundo. As famílias com melhor poder aquisitivo podem proporcionar às crianças outras fontes de entretenimento e informações e a TV, para elas, é apenas mais um recurso. Estas crianças dominarão com maior facilidade o código linguístico culto, vão ter a percepção mais apurada e consequentemente vão poder discutir ou comentar melhor as mensagens televisivas.
            O mesmo não ocorre com aquelas crianças sem opção de lazer. Elas vivem entre a TV e a escola, quando vão, e as brincadeiras de rua. Ainda assim, pode-se tirar proveito da programação televisiva, que oferece estímulos para que as crianças falem, narrem os episódios, interpretem as histórias dos filmes e desenhos animados que assistiram na TV e façam, assim, uma ponte com a vida cotidiana.

A TELEVISÃO COMO BABÁ ELETRÔNICA

            De alguma forma, a televisão substitui a função materna. Ocupa um lugar de destaque dentro do lar. É ponto de referência obrigatório na organização da vida familiar. Está sempre à disposição, oferecendo a sua companhia a qualquer hora do dia ou da noite. Alimenta o imaginário infantil com todo tipo de fantasias e contos. É um refúgio nos momentos de frustração, de tristeza ou de angústia. E, como uma mãe branda, nunca exige nada em troca. (Ferrés, 1996).
            No ritmo da sociedade de hoje muitos pais estão se perguntando se a TV é mesmo prejudicial para os seus filhos. Alguns pensam que devem desligar a TV. Outros nem se importam com isso, pois a TV, para eles, realmente é a alternativa mais segura nos dias de hoje. Antigamente nossos filhos podiam brincar na calçada, com os amiguinhos da vizinhança. O crescimento das cidades tornou as ruas mais perigosas para todos, principalmente para as crianças. Não se pode mais brincar nas calçadas.
            Os avós, que no passado tinham tempo de cuidar, brincar com os netos, hoje andam ocupados, trabalhando até idade mais avançada. Aquela criança que podia brincar de amarelinha, de esconde-esconde, subir em árvores, correr, sem perigo, hoje está “presa” em um apartamento e tem como companhia a TV e seus desenhos animados. A mãe não precisa mais procurar seus filhos pela vizinhança, pois eles estão “grudadinhos” na telinha da TV por horas a fio.
            Isto, no final, dá à família a sensação de segurança, no sentido de que pelo menos as crianças estão dentro de casa. E aí está o perigo. Visando esta segurança, os pais deixam os filhos livres para assistirem o que quiserem e o tempo que quiserem. De maneira geral, os pais se esquecem daquela outra parte importante: atividades saudáveis, convívio com outras crianças, jogos de socialização; coisas tão fundamentais para o desenvolvimento infantil.
            Visto que a TV está diariamente na nossa casa, em nossas vidas, deveríamos procurar utilizá-la da melhor maneira possível, fazendo dela uma aliada em casa e na escola. Para a criança, esta liberdade de escolher rapidamente o que quer ver, muito ao contrário dos livros que trazem só aquela história, aquele tema, é maravilhoso e estimulante.
            De acordo com Pougy (2002), “é função dos pais e professores usarem a televisão para mostrar para as crianças quais as opções de escolha são corretas e quais são erradas entre tantas veiculadas na TV.” Se usarmos mais o diálogo com a criança, tanto em casa quanto na escola, naturalmente ela vai parar de dialogar com a TV.

QUANTO À IMPORTÂNCIA DA TV E OS SEUS PROGRAMAS ESPECÍFICOS

            Como um dos principais atributos positivos da televisão, identifica-se sua importância como um veículo que permite a constante atualização de acontecimentos, colocando o telespectador como um cidadão do mundo, ampliando suas fronteiras e permitindo que entre em contato com diferentes realidades. Mais ainda, sua linguagem ágil, associada aos recursos visuais, imprime à informação leveza e dinamismo, sendo considerada a audiência à sua programação como uma valorizada forma de lazer. (Zavaschi, 1998).
            Muito se tem falado e analisado ultimamente sobre os programas de televisão e, principalmente, sobre a influência deles na vida das crianças. Assim como pontos positivos, a TV tem seus pontos negativos e um dos mais importantes a relatar é o excesso de violência contido nas programações, inclusive infantis. É importante então saber o tamanho da responsabilidade desse veículo de informações de massa, no que diz respeito ao seu poder de persuasão.
            Os pais precisam ficar alerta para a programação permitida a seus filhos, principalmente se forem menores, pois quanto menor a criança, mais ela fica impressionada. É de certa forma conveniente para alguns pais que a criança fique vendo a TV, para dar sossego, como se a TV fosse uma babá eletrônica. Daí pode-se pensar: desligar a TV? Seria a solução?
            Segundo Medeiros (1998): “Desligar os aparelhos não é nem de longe, tão eficaz como planejar alguma outra atividade divertida para a família. Limite o uso da mídia. O uso da televisão deve ser limitado a não mais de uma ou duas horas de boa qualidade por dia.”

A TV E A ESCOLA: educar e deseducar

            A televisão, para a criança, torna-se um lugar de liberdade. Diante da escassez de espaço físico, de áreas verdes, resta-lhe este prazer, este espaço de evasão, algo que não está sujeito a controle nenhum. Ali, a criança escolhe o material de seus sonhos.
            Segundo Ferrés (1996), “não basta que a criança não fique fisicamente sozinha diante da TV. É necessário que ela não se sinta como espectador, que compartilhe a experiência, que possa dialogar, comparar.” (p.104). A televisão, do ponto de vista educacional, torna-se nociva quando não existe reciprocidade. Os adultos devem saber manter com a criança um diálogo frutífero durante a programação. A TV torna-se nociva quando não se está preparado para assisti-la.
            Desde muito cedo, as crianças em idade pré-escolar e que vêem televisão por longo tempo, acostumam-se a “ler” os logotipos dos produtos que as interessam. Hoje em dia, uma criança de quatro anos que vai ao supermercado com os pais, sabe perfeitamente pegar na gôndola o iogurte que deseja beber, e sabe dizer o seu nome. Sabe que aquelas sandálias são da Xuxa ou da Sandy, pois está muito familiarizada com esses rostos na TV. Conhece símbolos de lojas, de mercadorias, enfim sabem “ler” as marcas. São alfabetizadas pelas imagens, através da televisão, sem nenhum professor.
            É realmente difícil a reação de pais e educadores diante de crianças que aos cinco ou seis anos de idade já assistiram TV tanto quanto um adulto. É também difícil querer mudar as manias que adquirem na TV, como modo de falar, se vestir, o emprego de algumas expressões que todo mundo fala, porque está na novela. Nós adultos também somos consumidores da TV e somos também influenciados como as crianças
            As escolas não podem mais deixar de lado uma educação para as mídias, principalmente a televisão, pois estamos vendo que ela, a TV, está alfabetizando nossas crianças com logotipos, levando-as ao consumismo. Cabe ao professor, então, ensinar-lhes os seus direitos, educá-las para a cidadania.

CONCLUSÃO

            A saída para não perdermos as crianças na escola é falar e fazer falar de TV dentro da sala de aula. O professor pode ajudar a criança, promovendo discussões sobre televisão com os alunos e, sobretudo, com os colegas.
Temos consciência de que nada, a rigor, está pronto e o conhecimento não é dado, hora nenhuma, como algo acabado, terminado. O conhecimento é constituído pela interação do indivíduo com o mundo das relações sociais, enfim, com os meios tecnológicos. Desta maneira, a escola não pode ignorar a influência da mídia. A escola deve partir da realidade vivida por alunos e professores, ou seja, pela sociedade. É necessário que a educação seja um processo de construção de conhecimento, complementando-se, de um lado os alunos e professores e, de outro lado, os problemas sociais e o conhecimento já adquirido. A sociedade se faz todos os dias, conforme a ciência e a tecnologia progridem.
            A escola não pode ficar alienada visto que a TV está alfabetizando as crianças com logotipos, levando-as ao consumismo
            Desta maneira, para aqueles que realmente querem formar e ver crescer cidadãos, a solução não é apagar a telinha ou mudar o canal. É preciso refletir sobre as imagens e sobre como elas se refletem sobre outros textos. É preciso analisar a televisão, juntamente com os usuários da TV, para impedir que, principalmente a violência, continue sendo tão explorada pela mídia de maneira tão sensacionalista.
            Brigar de nada adianta. É preciso discutir mais este assunto, transformar os resultados das conversas em projetos reais, de ensinamento, mais perto da realidade das crianças.
            Surge aí a relevância da televisão. Além de entender a importância da educação familiar e do ambiente escolar, é preciso que se dimensione o papel desempenhado pela exposição da criança aos estímulos e à influência dos meios de comunicação.
            Sabe-se que a solução não é proibir o uso da TV e sim fazer uma análise dos programas visando à idade das crianças, o tempo que vão ficar vendo TV, ajudá-las a criticar e saber separar um programa do outro. Outra solução, talvez a melhor, é proporcionar-lhes outras atividades mais saudáveis. Não havendo opção, deve-se procurar na própria TV programas bons e dirigidos à idade certa, tendo a firmeza de impor limites de tempo em frente à TV.

REFERÊNCIAS
FÉRRES, Joan. Dosagem do consumo. In: FÉRRES, Joan. Televisão e educação. Porto Alegre, Artes Médicas, 1996, p. 83-86.

MEDEIROS, Antonia Clarisse de. A violência no cotidiano das crianças – a televisão e a influência dos superseres, heróis, heroínas, vilões e vilãs. 1998. Dissertação: Universidade Metodista de São Paulo, 1998. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/psiq/vio-usod.html>. Acesso em: 22/09/2002.

PACHECO, Elza Dias. Infância, cotidiano e imaginário no terceiro milênio: dos folguedos infantis à diversão digitalizada. In: PACHECO, Elza Dias. Televisão, criança, imaginário e educação: dilemas diálogos. Campinas, SP: Papirus, 1998.
ZAVASCHI, Maria Lucrécia S. O impacto da mídia. In: ZAVASCHI, Maria Lucrécia S. A televisão e a violência: O impacto sobre a criança e o adolescente. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/psiq>. Acesso em: 22/09/2002.




[1] Empresária, graduada em Ciências, Pós-graduada em Educação Infantil pela Universidade Federal de Juiz de Fora; Pós-graduada em Mídia e Deficiência, pela UFJF e Pós-graduada em Arte, Cultura e Educação, pela UFJF. Possui várias publicações em revistas e sites da Internet.