terça-feira, 28 de junho de 2011

INFÂNCIA E MEMÓRIA - ARTE E INFÂNCIA

INFÂNCIA, HISTÓRIA E MEMÓRIA EM PORTINARI

Por Sonia das Graças Oliveira Silva

INFÂNCIA E MEMÓRIA

Arte e infância, infância e arte


                                       Sabem por que é que eu pinto tanto menino em gangorra e balanço? Para  botá-los no ar, feito anjos. (PORTINARI, 2009).


            Percebe-se que a arte e a infância se encontram em muitos períodos artísticos. Um exemplo disso são algumas representações de crianças nas obras, assim como aquela que surge em um detalhe da obra de Gustave Courbet (1855), intitulada, O ateliê do Pintor. Outro exemplo é Claude desenhando Françoise e Paloma, de Pablo Picasso em 1954.
                                                                                                                              
Figura 1 e figura 2
O Atelier do Pintor[1] (1855) - Detalhe central - O Atelier do Pintor - 1855         
             
     
  

Como já foi citado nesse trabalho, a arte da Idade Média desconhecia ou não fazia muita questão de retratar a infância. Aqueles que pintavam crianças em suas telas, as pintavam com corpos de homens em tamanho pequeno.
            Já em fins do século XVII alguns artistas que faziam os retratos de família antigos começam a pensar na criança como o centro da cena, inclusive o pintor barroco passa a contar com crianças para dar ao grupo o dinamismo que faltava. Ainda no século XVII, a cena de gênero reservará à infância um lugar privilegiado: “há inúmeras cenas de infância com caráter convencional, aulas de leitura, nas quais persiste o tema da aula da Virgem da iconografia religiosa dos séculos XIV e XV, aula de música, moços ou moças desenhando, brincando [...]”. (ARIÈS, 1973 apud CHAMEL, 2004, p. 3).
            No quadro de Elisabeth Vigée Lebrun[2], apesar de a composição continuar inspirada pelo modelo da Virgem com criança, neste auto retrato também chamado de Ternura maternal, o rosto e a atitude de sua filha certamente nada têm a ver com os dos meninos Jesus das madonas de Bellini, cópias de homens sem nenhum traço da infância, que contrastam com a enigmática beleza de sua mãe. Lebrun não se recusa a representar a morfologia infantil ao reproduzir miniaturas de homens. Ela retrata a filha como realmente é. A seguir alguns modelos de obras que retratam as crianças como realmente eram.
Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun - Self-portrait in a Turban with Julie, 1786- oil on canvas
1786 - 105 x 84 cm - The Louvre, Paris

Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun

Élisabeth-Louise Vigée-Le Brun - Marie Antoinette and her children - 1787
Oil on canvas, 104" x 82"  -  Versailles






[1] Fonte:http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=1485
[2] Fonte: (http://www.batguano.com/vigeeart5.html)


BREVE ANÁLISE DE ALGUMAS OBRAS de CANDIDO PORTINARI

BREVE ANÁLISE DE ALGUMAS OBRAS de CANDIDO PORTINARI

Por: Sonia das Graças Oliveira Silva
                                                                  Quanta coisa eu contaria se pudesse e         soubesse ao menos a língua como a cor. (PROJETO PORTINARI, 2009, p. 39). 


            São vários os artistas que registram em suas obras a cultura de seu povo e de seu país. Candido Portinari foi um destes artistas, produziu uma extensa obra que leva quem a conhece a viajar no tempo, através da história. Neste texto analisa-se algumas obras, pois a grandiosidade do trabalho de Portinari não seria possível demonstrar em tão pouco espaço.
            A grande preocupação de Portinari sempre foi expressar o homem por meio de diferentes linguagens e formas. Ele retratou o Brasil em suas pinturas. “Misturando as técnicas que havia aprendido à sua personalidade, experimentou novos caminhos para os traços, as cores e as formas que criava.” (ROSA, 1999, 29).
            Em 1934, Portinari pinta Despejados, sua primeira obra com temática social. Em 8 de dezembro do mesmo ano, é inaugurada sua primeira exposição individual na cidade de São Paulo. Tudo o que Portinari pinta não pode ser rotulado, apresenta contradições e soluções que superam o artista comum. Ele não é simplesmente enquadrado em um contexto artístico. A obra de Portinari deve “ser entendida com toda a sua força dramática expressa em cada pincelada.” (ROSA, 1999, p. 29).
            Mestiço, um óleo sobre tela de 1934, segundo a Pinacoteca Caras (1998), causou um impacto dramático, com traços carregados de contrastes entre o preto e o branco e o expressionismo das cores. O Mestiço é um homem retratado com mãos fortes e calejadas pelo trabalho. Essa obra permaneceu na Pinecoteca do Estado, a primeira instituição pública a abrigar uma obra de Candido Portinari no acervo.
            Na obra Lavrador de café, de 1934 Portinari demonstra sua maior preocupação, o homem. Para ele,

                                      O conteúdo espiritual de um quadro registra a potência de sensibilidade do artista. O lado técnico registra o conhecimento e o  desenvolvimento da sensibilidade do artista. A técnica é um meio com o qual o artista transmite a sua sensibilidade. (ROSA, 1999, p. 15).

            Na tela Lavrador de café, uma das mais famosas, Portinari retratou a força, o movimento e o desafio do trabalhador rural. As cores usadas nas duas obras tem predominância do marron, do vermelho, cores da terra, talvez demonstrando a união do homem à terra vermelha, com os pés fincados e firmes como se fosse buscar e conquistar a sua própria terra.
             Com o quadro Café (1935), Portinari foi premiado nos Estados Unidos. Rosa (1999) acrescenta que a obra revela a preocupação do pintor com os trabalhadores rurais, com sua vida, suas dificuldades. A rotina de trabalho destes homens, suas vestimentas, seu modo de trabalhar, seus pés e mãos muito grandes mostram a dureza de suas vidas. Portinari escreve Retalhos de Minha Vida de Infância e assim descreve os pés dos trabalhadores:

                                      Impressionavam-me os pés dos trabalhadores das fazendas de café. Pés disformes. Pés que podem contar uma história. Confundiam-se  com as pedras e os espinhos. Pés semelhantes aos mapas: com montes e vales, vincos como rios. Quantas vezes, nas festas e bailes, no terreiro, que era oitenta centímetros mais alto que o chão, os pés ficavam expostos e era divertimento de muitos apagar a brasa do cigarro nas brechas dos calcanhares sem que a pessoa sentisse. Pés sofridos com muitos e muitos quilômetros de marcha. Pés que   só os santos têm. Sobre a terra, difícil era distingui-los. Os pés e a terra tinham a mesma moldagem variada. Raros tinham dez dedos, pelo menos dez unhas. Pés que inspiravam piedade e respeito. Agarrados ao solo eram como os alicerces, muitas vezes suportavam apenas um corpo franzino e doente. Pés cheios de nós que expressavam alguma coisa de força, terríveis e pacientes. (PROJETO PORTINARI, 2009, p. 16).

            No final da década de 1940, Portinari inicia as pinturas sobre temas históricos e por meio de murais expressa seu olhar sobre os fatos da história do Brasil. Pinta um painel sobre a Primeira missa no Brasil, apresentando características mais geométricas ao utilizar retas paralelas e diagonais provocando efeitos especiais.
            Sempre retratando a parte social, Portinari pinta em 1944, a Série Retirantes e Enterro na rede, atingindo o auge da emoção. Nessas telas retrata imagens de sua infância, as famílias desabrigadas e pobres que passavam por sua cidade. (ROSA, 1999).


REFERÊNCIAS


PROJETO Portinari. Viagem ao mundo de Candinho. Disponível em: <http://www.portinari.org.br/candinho/candinho/abertura.htm>. Acesso em: 17/Ago/2009.


ROSA, Nereide Schilaro Santa. Candido Portinari. Coleção Mestres das Artes no Brasil. São Paulo: Moderna, 1999.